Nesse dia, ao falar com uma amiga, confessava-lhe:
-Namorar com ela era como andar numa montanha-russa...
De sorriso disfarçado entre as expressões de tristeza e indiferença que todos evidenciamos nestas alturas. Ela olhava-me com ternura e repreensão. Dizia-me:
- Não sabes se lhe hás-de fazer o luto, ou correr-lhe novamente para os braços.
E na verdade não sabia. Continuo sem saber. Quando julgo que te esqueço, apareces-me à frente e volta tudo à estaca zero. Tens a mania de te deixar ficar no meu peito. Tens a mania de te demorar a sair. Tens a mania de me incomodar. Namorar contigo era como andar numa montanha-russa. Era excitante, eufórico, vertiginoso e apavorante. Não namorar contigo obriga-me a ressacar por ti. De maneira que não sei o que será melhor. Não sei se te faça o luto e te enterre debaixo de sete palmos de entulho amoroso, ou te corra para os braços e te peça permissão para embarcar numa nova viagem.
- Não sei que fazer. Juro que não sei que fazer…
A minha amiga:
- Consegues imaginar uma vida inteira ao lado dela?
Eu, de sobrolho em riste, a pensar nos prós e nos contras da questão.
- As montanhas-russas também cansam…Por muito que quisesse não te conseguia imaginar ao meu lado durante uma vida inteira. Todos precisamos de estabilidade. Um dia a euforia esgota-se, a excitação torna-se em cansaço e a vertigem torna-se demasiado grande para ser suportada. Todos precisamos de um pouco de estabilidade. Todos precisamos de um factor de equilíbrio. É irónico o amor. Nem sempre aquilo que desejamos é aquilo que nos faz bem. Nem sempre aquilo que nos fascina é aquilo que nos faz ficar.
- As montanhas-russas também cansam, e eu estou cansado.
O coração é irónico, tem-me dado o cérebro para equilibrar. Não sei se ainda te amo, ou se tenho saudades de te amar.»